Já notou transações suspeitas em seu cartão de crédito, pouco tempo depois de usá-lo em algum lugar? Talvez tenha percebido no seu extrato, ou mesmo recebido algum sms sobre compras não reconhecidas? Se isso já aconteceu com você, possivelmente você foi vítima do golpe do cartão clonado.
Apesar da evolução da tecnologia de pagamentos e segurança, a clonagem de cartão é o golpe mais comum no Brasil.
De acordo com a pesquisa “Radar Febraban-Ipespe”, realizada em 2022, 64% dos entrevistados alegaram que já foram enganados desta maneira.
O advogado Caio de Luccas, especialista em defesa do consumidor e professor de Direito, acredita na importância de reforçar os cuidados com os meios de pagamento: “[...] As pessoas acreditam que estão um passo à frente dos golpistas, que nunca serão a próxima vítima e acabam se descuidando um pouco”.
Confira a seguir como os fraudadores de cartão agem e, mais a frente, uma entrevista com de Luccas, contendo diversas dicas de segurança para que você se proteja de golpes.
Principais métodos usados pelos golpistas
Os fraudadores de cartão agem de diversas maneiras. A seguir, você verá os principais métodos utilizados para clonagem:
Golpe do delivery
Criminosos se passam por entregadores e, durante o processo de pagamento presencial, usam táticas para fotografar ou memorizar informações do cartão e senha da vítima.
Maquininhas adulteradas
Mesmo com a segurança reforçada dos chips, os cartões ainda podem ser vulneráveis durante transações presenciais.
Seja através de enganos durante a inserção de senhas, os golpistas encontram maneiras de capturar os dados necessários.
Spyware
Uma ameaça traiçoeira que muitos não reconhecem é o spyware. Este vírus malicioso é projetado para se infiltrar silenciosamente nos dispositivos das vítimas e monitorar suas atividades.
Ao acessar aplicativos bancários ou inserir informações de cartão em sites, os usuários expõem esses dados aos criminosos sem sequer perceber.
Phishing
Esta é uma das estratégias mais frequentes usadas pelos criminosos virtuais. Utilizando e-mails ou mensagens de texto enganosas, eles direcionam a vítima para sites falsos, geralmente imitando bancos ou lojas online.
Ao inserir dados de cartões de crédito nessas páginas, os criminosos têm as informações necessárias para clonar o cartão da vítima.
Exposição em redes sociais
A cultura do compartilhamento excessivo em redes sociais, infelizmente, muitas vezes se estende à divulgação imprudente de informações pessoais e financeiras.
Os golpistas se aproveitam dessa superexposição, entrando em contato com indivíduos e obtendo dados de cartões, às vezes até por meio de imagens do próprio cartão compartilhadas pela vítima.
Websites e aplicativos falsos
Uma variação do esquema de phishing, citado acima, é a criação de websites e aplicativos fraudulentos.
Eles podem aparecer como jogos, plataformas bancárias ou outros softwares úteis, mas na verdade são armadilhas para capturar dados do cartão de crédito do usuário.
Fotos dos cartões
Parece simples, mas é um golpe bastante eficaz. Golpistas se passam por representantes legítimos de bancos e outras instituições, enganando as vítimas para que tirem e enviem fotos dos seus cartões.
Com isso, eles conseguem todas as informações necessárias para fazer transações fraudulentas. Não guarde fotos do seu cartão no seu celular e nunca envie a terceiros.
O que fazer para evitar que o cartão seja clonado
Apesar de os golpistas estarem cada vez mais “criativos” na maneira de fraudar um cartão de crédito, existem algumas dicas para evitar que você seja a próxima vítima.
Nunca perca seu cartão de crédito de vista
Mesmo com a utilização dos cartões virtuais, é essencial manter a segurança do cartão físico também.
“Quando você vai fazer uma compra e a pessoa diz que vai passar seu cartão em uma outra máquina e já volta, isso é um sinal de alerta”, ressalta De Luccas.
A ação, aparentemente inocente de não vigiar o cartão por alguns segundos pode ter consequências desagradáveis. Uma simples foto pode comprometer a sua segurança financeira.
Além de não emprestar seu cartão a ninguém, uma outra dica do advogado é colar um adesivo ou pedaço de fita nele, com o objetivo de cobrir o código de segurança, pois sem essa informação, terceiros mal-intencionados não conseguirão realizar nenhuma transação financeira.
Além disso, o consumidor diminuirá significativamente as chances de ter o seu cartão trocado, pois conseguirá identificá-lo facilmente.
Desconfie de ligações e contatos suspeitos
Golpes telefônicos são mais frequentes do que se imagina. Os fraudadores costumam se passar por funcionários de bancos e pedem informações de conta e cartões por ligação.
Há também aqueles que entram em contato e aplicam golpes via WhatsApp.
É importante lembrar que instituições financeiras não pedem informações confidenciais dessa forma, por isso sempre desconfie.
O advogado também chama a atenção para erros ortográficos grosseiros em eventuais mensagens de texto via SMS, WhatsApp ou redes sociais.
Cuidado com links e redes sociais
“É essencial ser cauteloso ao clicar em links recebidos, especialmente se forem de fontes desconhecidas”, alerta De Luccas.
Além disso, ele também ressalta a importância de prestar atenção ao remetente do e-mail e ao próprio link, pois até mesmo boletos falsos podem ser enviados como anexo. E-mails oficiais de bancos não possuem domínios como @gmail ou @outlook, por exemplo.
As páginas falsas possuem, em sua maioria, erros ortográficos ou alguma alteração no nome da instituição financeira.
Isso porque não é permitido o registro de dois domínios de sites exatamente iguais, então os golpistas alteram algo mínimo nos links.
Utilize mecanismos de segurança do aplicativo
Os smartphones se tornaram extensões de nós mesmos, contendo uma infinidade de informações pessoais. E isso, é claro, inclui dados bancários.
“Para quem usa funções do cartão pelo celular, é essencial reforçar as camadas de segurança.
Além de senhas fortes, é interessante ativar os recursos de autenticação biométrica, como reconhecimento facial e impressões digitais”, destaca Caio de Luccas.
Um outro alerta do advogado é a respeito do controle de limite do cartão de crédito:
“Se você tem um limite de R$5.000,00, por exemplo, e utiliza apenas R$300,00 por mês, não há necessidade de manter tudo isso de limite disponível. Então, se o aplicativo do banco permite que você regule instantaneamente a quantidade de limite que necessita usar, isso é um outro mecanismo para trazer maior proteção ao consumidor”.
Tenha cuidado ao se conectar em redes públicas
A conveniência das redes públicas wi-fi é inegável. No entanto, elas podem ser facilitadoras para obter seus dados.
“Redes abertas são vulneráveis e podem servir como um canal direto para cibercriminosos”, alerta De Luccas.
Algumas dicas para segurança em conexões públicas são:
- Fazer o uso de VPN (Virtual Private Network), que mascara sua conexão e torna mais difícil o rastreamento de sua localização real;
- Não realize ações como compras ou operações bancárias.
Sempre busque informações direto com o banco
“Em vez de confiar em mensagens ou e-mails recebidos, o cliente deve sempre buscar informações diretamente com seu banco”, orienta o advogado.
Procure os canais oficiais dentro do aplicativo ou no site da instituição bancária assim que receber algum e-mail, mensagem ou ligação.
Além de verificar a veracidade, também ajudará a entidade financeira a impedir fraudes bancárias em seu nome.
Monitore constantemente as transações bancárias
Caio de Luccas também indica a ativação de notificações instantâneas no aplicativo do banco: “Com os alertas imediatos, é possível acompanhar em tempo real todas as transações realizadas”.
Assim, você pode identificar tentativas de compras suspeitas, um sinal claro de que seu cartão foi clonado, e agir de imediato.
Além disso, veja algumas dicas para usar melhor seu cartão de crédito no dia a dia.
Cuidado ao compartilhar seu cartão e ao utilizar maquininhas
Emprestar o cartão de crédito, mesmo que seja para um familiar ou amigo, não é uma boa ideia. Um descuido da pessoa e a clonagem pode acontecer.
De Luccas aconselha a manter o cartão sempre consigo e jamais emprestá-lo: “[...] mesmo que a pessoa diga ‘vou só passar ali e depois te pago’ não indico emprestar o cartão, ele é um bem intransferível”.
Quando o assunto é maquininha, o advogado explica que muitas máquinas de cartão são adulteradas para roubar dados e realizar a clonagem, o chamado golpe de skimming.
“A dica aqui é sempre pedir o comprovante da compra, [...] porque essas maquininhas modificadas funcionam assim: elas mostram no visor um valor, R$3,00 por exemplo, porém estão programadas para transacionar R$3.000,00”.
Além de conferir sempre o recibo de compra, ter as notificações do aplicativo do banco ativas também ajuda muito nesses casos.
O que fazer em caso de clonagem?
Caso perceba que teve seu cartão clonado, a primeira coisa a se fazer é bloquear o cartão, que pode ser feito através do aplicativo do banco ou entrando em contato através de um canal oficial.
É importante reportar o quanto antes. O advogado menciona, inclusive, que a própria instituição financeira identifica a atividade como suspeita:
“[...] Se é uma compra em um valor que a pessoa não faz normalmente ou em lugar que nunca comprou, é muito mais fácil para o banco ou operadora de cartão identificar a clonagem”.
Conclusão
As fraudes envolvendo cartão de crédito são uma realidade preocupante, principalmente a clonagem.
Apesar das inovações tecnológicas que promovem a segurança, os golpistas continuam encontrando maneiras “criativas” de burlar os sistemas bancários.
No entanto, a informação é uma poderosa ferramenta de defesa. Ao compreender as principais táticas usadas pelos fraudadores e adotar práticas de prevenção, os consumidores podem reduzir drasticamente o risco de serem as próximas vítimas.
Lembre-se sempre de monitorar suas transações, ser cauteloso com as informações e, em caso de qualquer atividade suspeita, agir prontamente para diminuir os danos.
Entrevistado: Caio de Luccas | Advogado especialista em direito do consumidor